A FAU UFRJ

A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU UFRJ) se originou na Academia de Belas Artes criada em 1816, sendo o mais antigo curso universitário do país. Se constituiu numa Unidade da Universidade em 1945, quando a então Faculdade Nacional de Arquitetura foi desvinculada da Escola Nacional de Belas Artes.

Hoje, a FAU UFRJ abrange o Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, com aproximadamente 1.400 estudantes, e 6 cursos de pós-graduação, com aproximadamente 350 estudantes – Mestrado em Arquitetura, Mestrado em Urbanismo, Mestrado Profissional em Arquitetura Paisagística, Mestrado Profissional em Projeto e Patrimônio, Doutorado em Urbanismo e Doutorado em Arquitetura.

Funciona no Edifício Jorge Machado Moreira que comporta além da FAU UFRJ, parte da Reitoria da UFRJ, o Centro de Letras e Artes (CLA), parte da Escola de Belas Artes (EBA) e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR).

Como instituição pública, a FAU UFRJ assume a importância em acolher todas as formas de diversidade, seja do seu corpo social, seja no campo de conhecimento, seja nas ações de pesquisa, extensão, ensino e relações institucionais.

Busca reflexões de vanguarda que tragam melhorias no âmbito social, para o crescente número de habitantes das cidades que vivem, em geral, em condições aquém das ideais:
– pensamento científico e crítico para criar novas arquiteturas;
– tecnologias para inovação espacial e construtiva;
– valorização da memória e da coletividade;
– soluções para ambientes socioambientais frágeis;
– diálogo com a sociedade e inserção profissional.

HISTÓRIA E PATRIMÔNIO

O ensino da Arquitetura e Urbanismo

A produção e o aprendizado da Arquitetura no Brasil Colônia ocorriam junto às corporações de ofício ou em um canteiro de obras, a exemplo dos trabalhos de Antonio Francisco Lisboa. Excepcionalmente iríamos encontrar alguns profissionais habilitados, na maioria das vezes em Academias Militares, desenvolvendo projetos arquitetônicos ou urbanísticos, como Frias de Mesquita ou Pinto Alpoim.

Somente após a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, foi criada a Academia de Artes e Ofícios, que só começou afuncionar em edifício próprio em 1826, já como Academia Imperial, iniciando-se assim o ensino regular de Arquitetura, como um dos cursos da Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, sendo indicado como responsável pelo curso, o arquiteto Grandjean de Montigny que veio na Missão Francesa em 1816 e que foi o autor do novo edifício especialmente projetado e construído para este fim junto à Av.Passos no centro do Rio, hoje desaparecido.

A partir de 1890, já na República, as diretrizes do curso foram alteradas dissociando cada vez mais o ensino de Arquitetura das demais Belas-Artes. No início do século XX, junto com as propostas de melhoramentos da então Capital Federal, foi idealizado e construído um novo e imponente edifício, inspirado no Louvre, projeto do Professor-arquiteto Morales de Los Rios, para abrigar a Escola de Belas Artes, na então recém inaugurada Avenida Central, hoje Rio Branco. O arquiteto do início do século poderia, diariamente, respirar o ar das reformas urbanas e conviver com o espaço eclético, repleto de referências acadêmicas e historicistas, fontes constantes de referência e inspiração.

A reforma de 1931, introduzida pelo então Diretor Arquiteto Lucio Costa, passou a apresentar uma definida orientação modernista, contrariando parte do corpo docente, ainda vinculado à modelos conservadores, o que provocou seu afastamento da direção do curso. Foi nesta reforma que se incluiu a cadeira de Urbanismo, antes desconhecida da maioria. Estas inovações acabaram por provocar em 1945, a separação definitiva do Curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes, sendo criada a Faculdade Nacional de Arquitetura pelo Decreto N. 7918, de 31 de agosto, que acabou sendo transferida para outro edifício, o antigo Hospício Pedro II, então recuperado, localizado na Praia Vermelha.

Em 1961, a Faculdade passou a ocupar seu endereço atual, na Ilha do Fundão, em um edifício próprio, projetado pelo Arquiteto Jorge Machado Moreira, em 1957, exclusivamente para sediá-la.

A partir da Reforma Universitária introduzida pela Lei de Diretrizes e Bases de 28/11/68, o Curso de Arquitetura sofreu nova modificação para atender às novas características do sistema de créditos então implantado.

Posteriormente, passou a se chamar Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, uma das maiores e mais importantes do país, responsável pela formação de eminentes profissionais não só conhecidos no Brasil, mas também no cenário internacional, tais como Oscar Niemeyer, Sérgio Bernardes, Maurício Roberto, Afonso Eduardo Reidy, dentre outros.

Em 1996 um novo currículo foi implantado, sendo o resultado de uma avaliação crítica, iniciada ainda na década de 80, solicitada não só pelo corpo discente como pelo corpo docente, consequente de uma nova realidade social e econômica que se impunha na área do conhecimento e da prática da Arquitetura e do Urbanismo. Esta reforma curricular também procurou atender às diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso, então fixados pela Portaria N. 1770 de 21/12/94 do CFE e da nova Lei de Diretrizes e Bases de 23/12/96.

Hoje, a FAUUFRJ, novamente, está diante da aprovação um novo currículo, mais dinâmico, ágil e plural, que abarque as diversidades sociais e do campo de conhecimento, reconhecendo sua excelência em pesquisa e suas ações de extensão.

Baseado em texto originalmente produzido pelo Prof. William S. M. Bittar

O Edifício Jorge Machado Moreira – JMM

Desenho preto e branco mostra a fachada do edifício Jorge Machado Moreira, em perspectiva.

Originalmente denominado Prédio da Faculdade de Arquitetura, em 2016, após o seu tombamento pelo IRPH – Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, passa a ser denominado pela Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edifício Jorge Machado Moreira – JMM, em homenagem ao Arquiteto que o projetou em 1957, quando então foi premiado na IV Bienal de São Paulo.

Concebido à época como um novo paradigma arquitetônico, ele se destaca por sua composição e volumetria, onde os espaços livres projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx têm tanta relevância quanto os espaços edificados. É a percepção indissociável desses elementos que faz com este conjunto tenha sido reconhecido como patrimônio e recebido o tombamento provisório, primeiramente dos jardins e painel pelo Decreto 30.936 de 2009, ano do centenário do paisagista, e do edifício pelo Decreto 42.710 de 2016, imediatamente após o incêndio ocorrido no seu 8º andar.

O tombamento provisório do edifício teve por objetivo sua proteção, impedindo que a reconstrução deste pavimento, após o incêndio, comprometesse a composição original de suas fachadas. Contudo, somente com um Plano de Conservação, aprovado junto aos órgãos competentes, será possível a obtenção do tombamento definitivo, primeiro em instância municipal e posteriormente em instância federal, sendo assim reconhecido como patrimônio nacional.

Estudar no edifício é viver a vertente construtiva da linguagem modernista que representou à época uma nova maneira de conceber, projetar e construir. Hoje, esse mesmo edifício, símbolo da educação pública, expande suas funções em busca de uma formação audaciosa na cooperação das discussões internacionais, adequando conceitos da ciência e da inteligência artificial, para as soluções dos problemas de arquitetura e urbanismo.

O Edifício nasce na Universidade do Brasil, hoje UFRJ, instituição criada em 1937 (Lei nº 452/1937) para ser um modelo nacional. Apesar dos objetivos ambiciosos, essa instituição nasceu sem condições materiais adequadas, dentre elas, a ausência de um Campus Universitário. No entanto, a idealização de um campus, pelo Ministro da Educação e Saúde – Gustavo Capanema, precede sua fundação, sendo de 1935, concomitante ao desenvolvimento do Edifício do MEC (hoje denominado Palácio Gustavo Capanema), patrimônio nacional modernista, projetado por Lucio Costa e equipe – Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Carlos Leão, Ernani Vasconcelos e Jorge Machado Moreira, a partir do estudo preliminar de Le Corbusier.

Maquete em madeira e papel do Edifício JMM. A foto está em perspectiva.

Os estudos para um campus foram desenvolvidos por várias equipes em diferentes locais da Cidade: Marcelo Piacentini (1935-36) para Praia Vermelha e para Quinta da Boa Vista; Le Corbusier (1936), também na Quinta da Boa Vista e Lúcio Costa com Afonso Reidy e Firmino Saldanha (1936) na Lagoa Rodrigo de Freitas. Contudo, somente em 1944, começou a ser desenvolvido efetivamente um projeto de campus com a criação do Escritório Técnico da Universidade do Brasil (ETUB), atual Escritório Técnico da Universidade (ETU).

O designado diretor do ETU, Engenheiro Civil Luiz Hildebrando de Barros Horta, reviu as propostas anteriores e consultou o Departamento Nacional de Obras e Saneamento, o Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais e o responsável pelo Plano da Cidade – José de Oliveira Reis, que apontaram uma nova localização, à frente da região de Manguinhos, formada pela a unificação de nove ilhas na Baía de Guanabara. Definiu-se, assim, o local para construção do Campus Universitário, que leva até hoje o nome de uma das ilhas – Campus Universitário da Ilha do Fundão. Uma das premissas determinantes para a escolha deste local foi a menos interferência possível na geografia da cidade, já considerada nesta época ocupada de forma caótica, sem áreas livres.

Deste modo, a construção do Campus teve início a partir do aterramento que unificou as seis ilhas de um pequeno arquipélago na Baia de Guanabara, Zona Norte da Cidade do Rio de Janeiro, localizado entre Manguinhos e Ilha do Governador (Aeroporto Internacional Tom Jobim). Essa obra resultou na criação de uma grande ilha com área total de 5.596.000 m2 (equivalente à superfície do bairro de Copacabana).

Edifício JMM na fase final de sua construção. A foto preto e branca está em perspectiva. Na fachada ainda não foram colocadas as vridraças.

Em 1949, o Arquiteto Jorge Machado Moreira foi indicado para elaborar o projeto urbano do Campus e os projetos arquitetônicos de seus edifícios. O projeto urbano do Campus tinha as características marcantes do urbanismo moderno – o traçado rodoviário era a base para todas as implantações dos edifícios da futura cidade universitária. Era um desenho racional que priorizava as vias de transporte de automóveis, com avenidas largas, rotatórias e previsão de vastos estacionamentos.

O local destinado à Faculdade Nacional de Arquitetura no plano diretor da Cidade Universitária situava-se entre os “centros” destinados às Belas Artes e à Engenharia – a intenção seria a de representar as características artísticas e técnicas, específicas do campo profissional. O edifício foi projetado para abrigar 900 alunos. Seus espaços foram pensados de forma a materializar um projeto pedagógico a partir de uma concepção moderna do ensino de arquitetura. Os espaços generosos permitiam a criação de laboratórios, ateliês, oficinas de maquete e equipamentos adequados para atender plenamente às demandas da época.

O arquiteto optou por uma construção com 8 pavimentos, com pé-direito duplo, proporcionando uma boa orientação das salas de aula e criou um volume em conformidade com seu entorno imediato. A FNA fica próxima à colina de uma das ilhas do extinto arquipélago cuja topografia foi preservada pelo planejamento original, formando uma paisagem harmônica a partir da relação entre as alturas do edifício e da colina.

A volumetria concebida faz referência ao projeto do Palácio Gustavo Capanema e possui em sua composição geral um bloco principal (Bloco A) de 173 metros de extensão com 8 pavimentos, sendo 6 pavimentos tipo. Essa lâmina vertical é interseccionada por um volume perpendicular de menor altura composto por 2 blocos (Bloco B / C) conectando-se a um bloco de dois pavimentos (Bloco D) paralelo ao bloco principal. Foi projetado também, um bloco externo (Bloco E), conectado por meio de passagem com o Bloco D. Este bloco iria abrigar o Museu de Arquitetura Comparada que nunca foi construído.

Os jardins concebidos por Burle Marx que definem e compõem a quadra, interpenetram o edifício em seus pátios, perpassando os pilotis e os planos de vidro. O painel em concreto que compõe sua fachada principal, destaca o volume da biblioteca.

Foto colorida do Edifício JMM. A foto é atual. As árvores do jardim estão crescidas.