Cauê Capillé
Juliana Sicuro
Dia(s): Terças-feiras e quartas-feiras
Horário: Terças – 13:30h às 17:30h
Quartas – 08:00 às 12:00
Turmas: 1
Dep.: DPA
Tipo: Ateliê Avançado
Nome da Disciplina (Cadastro SIGA): AT. AV. PROJ. INVEST. TIPOLÓGICA
Código: FAP512
Nome da Disciplina (Cadastro SIGA): Ateliê Avançado Integrado
Código FAW: inscrição será feita pela Coordenação após a 2a CRID.
A pergunta central do atelier ‘Tipologias do comum’ é: de que modos o projeto arquitetônico pode estimular a possibilidade do comum (1) não como um momento episódico, mas como uma forma contínua de apropriação? Em outras palavras, nos interessamos em investigar de que maneiras as condições materiais, as disposições imanentes, os temperamentos infraestruturais e as organizações espaciais e formais da arquitetura alteram as possibilidades do comum e do fazer-comum.
Em particular, o desafio da habitação nos permite enfrentar esse problema de forma radical, pois habitar envolve mediação do fazer-comum desde os atos mais fundamentais de nossa condição humana: reproduzir (dormir, lavar / se lavar, comer), produzir e aparecer. Em outras palavras, a arquitetura permite/altera/impede hábitos e gradações entre íntimo e coletivo, privado e comum.
Ao mesmo tempo, o desafio da habitação implica em nos posicionarmos criticamente a políticas de ocupação da terra, em particular diante do déficit de habitação no Sul Global e diante os modos pelos quais o mercado imobiliário constrói habitações. O déficit de habitação é um dos recursos mais eficientes de aprisionamento financeiro da população em geral. Seja sob a forma de financiamento ou aluguel, somos forçados a viver em condições de dívida perpétua. Em outras palavras, para poder habitar — isto é, para poder estar/ser no mundo — é preciso que vendamos a maior parte da nossa vida ativa sob a forma de trabalho pago. Pensar alternativas a esse modelo implica em entender que toda construção de moradia envolve algum modelo de financiamento e manutenção, especializados em arquitetura e hábitos urbanos.
Ao mesmo tempo, a fim de facilitar a fórmula de retorno financeiro do mercado imobiliário, habitar é um verbo frequentemente vendido em um formato praticamente único. Mídias e marketing embutem a ideia que só há um tipo de família, um tipo de maneira de morar, um tipo de relação de intimidade, um tipo de indivíduo, etc. Essa ideia facilita a produção de um único tipo de unidade habitacional, multiplicada em larguíssima escala, a fim de ser vendida aos milhões. Habitação se torna uma tecnologia de manutenção do status quo financeiro. Essa fórmula ignora, assim, a possibilidade de outras ‘boas vidas’, outras intimidades, outras formas de comunidade.
O atelier ‘Tipologias do comum’ investiga justamente como o projeto arquitetônico da habitação permite contrapor as lógicas vigentes e propor outras formas de habitar o mundo, particularmente considerando a possibilidade política do comum. Entretanto, cabe ressaltar que o comum não implica em autarquia ou estar ‘fora do mundo’ e da sociedade. Ao contrário, o projeto do comum deve emergir da alteração, reciclagem e hackeamento do mundano existente.
Assim, o atelier ‘Tipologias do comum’ estrutura o projeto arquitetônico a partir de três etapas fundamentais: 1) aprender com a coleção do mundano encontrado (lições do ordinário) — investigaremos a partir de tipos de habitação já existentes e os mundos que estruturam; 2) manipular o encontrado de forma crítica, aproveitando o repertório arquitetônico como forma de pensamento projetual — contraporemos repertórios distintos, remixando partes dialeticamente; 3) projetamos sobre/com essa condição encontrada, a fim de divergir de sua situação atual.
Ao longo do atelier, faremos um estudo aprofundado de repertório de habitações e teorias associadas a esse tema.
(1)_ De forma simples, a prática do comum se sintetiza na construção de comunidade a partir de práticas coletivas (Buck-Morss, 2013; Dardot & Laval, 2014; Ostrom, 1990). O comum não existe dentro ou vem das próprias coisas, mas o ato de fazer-comum torna as coisas um comum (Dardot & Laval, 2014). A ética coletiva que emerge desse fazer-comum não é anterior à própria prática (Buck-Morss, 2013).
Ábalos, Iñaki. A Boa Vida: Visita Guiada Às Casas Da Modernidade. Translated by Alícia Duarte Penna. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2003.
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