No dia Internacional da Mulher, a homenagem da FAU à Nora Tausz Rónai
Pela Professora Maria Angela Dias:
O que cabe em 100 anos? Muito de uma vida bem vivida. Se a Geometria Descritiva foi a disciplina que Nora abraçou e ensinou com tanta dedicação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, poderíamos dizer que, o fato de ela ter ensinado como determinar distâncias, ângulos, superfícies e suas projeções em verdadeiras grandezas, seria uma forma de mensurar lugares, construções, mas também uma bela analogia sobre sua personalidade desbravadora de espaços e sua grandiosidade.
Arquiteta e Urbanista, escritora e atleta, professora Nora ou Dona Nora, como sempre a chamamos, foi uma educadora enérgica, assídua e profunda conhecedora da Geometria Descritiva e dos geômetras, alcançando, como boa nadadora que era – bateu os recordes mundiais de sua categoria, natação master, entre 1995 e 1999 – lá do outro lado do “oceano” de uma sala de aula, o interesse dos alunos dentro de uma disciplina considerada difícil.
Tudo com o seu inesquecível sotaque italiano misturado ao português do nosso Brasil que tanto ama e que a acolheu quando fugiu – com sua família – do nazismo, na década de 1940. Nora é uma sobrevivente. Pelas razões óbvias e por ter guiado sua vida até este belo centenário, com tanta honestidade, determinação e potência. Uma trajetória tão improvável quanto inspiradora.
“Recordo – comenta a professora Maria Angela – que, nos intervalos das aulas, ela nadava na Escola de Educação Física da UFRJ. Nestes dias, de almoço comia apenas um Polenguinho e algumas bolachas, tudo para dar tempo de nadar entre a aula da manhã e da tarde. Planejamento de quem acha a vida preciosa demais para perder tempo… cada momento deveria ser aproveitado!”
E prossegue em suas lembranças, contando que estreitaram a relação para além das aulas, enquanto professoras, através da convivência nas caronas que Maria Angela dava para ela, quando Nora a enriquecia da cultura que transbordava do seu conhecimento, e também da história de sua vida. Nas memórias que compartilhava com a colega, Nora foi uma menina que deveria ter sido pianista virtuosa, mas judia, nascida entre duas guerras mundiais, precisou fugir da perseguição. Então, os sonhos emigraram com ela e na velocidade necessária para que continuasse sua existência por aqui.
Em outros papos, Nora demonstrava o quanto amava e se preocupava com suas filhas: Cora, que se casou muito cedo, teve um casal de filhos e foi morar em Brasília; e Laura, que foi estudar flauta em Nova York. Pelo marido, Paulo Rónai, ela nutria um amor sem fim e uma admiração profunda. “Nora sempre foi muito especial. Ao lembrar desses momentos me emociono com saudades dos nossos encontros caroneiros”, completou Maria Angela.
Uma mulher extraordinária só poderia fazer aniversário em uma data rara: salve seu 29 de fevereiro! E como só acontece em ano bissexto, de quatro em quatro anos, atrasamos um pouco esta homenagem, mas sem prejuízo, sabendo que ela ainda chega a tempo de exaltar seu novo ciclo.
Viva seus 100 anos! Viva você e sua trajetória, Nora! Te celebramos hoje e sempre.
Com afeto,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Departamento de Análise e Representação da Forma.
Nora Tausz Rónai foi aluna da Faculdade Nacional de Arquitetura (atual FAU) entre 1945 e 1950, e foi professora do Departamento de Análise e Representação da Forma entre 1951 e 1979.